Resumo e análise sobre a leitura de trecho do livro A Sociedade dos Indivíduos, de Norbert Elias. Nessa postagem fiz a leitura dos tópicos I e II do livro
Sobre o autor:
Norbert Elias foi um sociólogo alemão. De família judaica, teve de fugir da Alemanha nazista, exilando-se em 1933 na França, antes de se estabelecer na Inglaterra, onde passou grande parte de sua carreira. Norbert Elias (1980) esclarece que os processos humanos e sociais são representados por pessoas (professores) que estão sujeitas às forças que as compelem, ou seja, forças de fato exercidas pelas pessoas (professores) sobre outras pessoas (alunos, pais, direção etc.) e sobre elas próprias (professores).
fonte: Wikipedia
“Os homens efetivamente precisam de mitos, mas não para comandar sua vida social. Isso não funciona com mitos. Estou profundamente convencido de que os homens conviveriam mais facilmente sem mitos. Os mitos, parece-me, acabam sempre por se vingar.”
Norbert Elias
Prefácio
Para absorver melhor o texto, cabe observar o prefácio do livro. Norbert Elias expõe o conceito de "indivíduo" e "sociedade', onde o primeiro se refere ao ser humano singular, como uma entidade isolada, e o oscila em duas ideias: quer como mera acumulação, somatória e desestruturada de de muitos indivíduos, quer como algo que existe para além da mera somatória de indivíduos, sem maiores explicações.
Nesta parte do livro, o autor trabalha os conceitos de "indivíduo", e "sociedade", de forma atual, referente a certos aspectos dos seres humanos.
Segundo o autor, é incomum se falar em sociedade de indivíduos, porém isso é muito útil para que haja uma emancipação do uso mais antigo e familiar, que em muitas vezes leva os dois termos a parecerem simples opostos.
Parte I
A sociedade dos Indivíduos (1929)
“A sociedade, como sabemos, somos todos nós; é uma porção de pessoas juntas.”
SOCIEDADE
É um termo familiar para as pessoas cujo conhecimento acerca da palavra é de entendimento geral.
Sociedade é uma porção de pessoas juntas. Mas sociedades diferentes são encontradas em lugares diferentes do globo, em tempos diferentes da história.
O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE não foi fruto de planejamento de algum indivíduo, então como se formou essa sociedade que, composta de um conjunto, não foi pretendida por ninguém, tampouco por um grupo.
A existência da sociedade se dá devido a vontade existente em um grande número de pessoas que querem e fazem algo, porém a estrutura das transformações da sociedade ocorrem de forma independente da intenções de qualquer pessoa.
CRENÇAS DIFERENTES SOBRE A EXISTENCIA DAS SOCIEDADES
Um grupo acredita que na formação sócio-histórica concebida, planejada e criada, por indivíduos ou organismos. Busca pela origem das instituições ou criações sociais de forma rasa, demonstrando seus criadores.
Crítica: Não seria possível explicar todos os fenômenos sociais, como a evolução artística ou o processo civilizador. Não apresenta uma ligação entre atos e objetivos individuais e formações sociais;
Outro grupo despreza a abordagem social e histórica a acredita nas ciências naturais como base, em particular a biologia, como meio de formação da sociedade.
Crítica: não traz clareza sobre como vincular forças produtivas das formações às metas e aos atos dos indivíduos, seja como força supraindividual, quer como forças mecânicas e anônimas.
A sociedade é cíclica, sempre atravessando por etapas e fases como nascimento, maturidade e velhice. Exemplo no pensamento de Spengler, ao defender que “esta vontade de domínio que transforma literalmente o planeta, através da força da sua energia prática e do poder gigantesco dos seus processos técnicos." (SPENGLER, 1993/1931:98) O filósofo e historiados acredita que a o ser humano já está em sua fase de declínio.
O autor descreve ainda uma espécie de panteísmo histórico, ou até mesmo um Deus. Defendendo a existência de um espírito supraindividual.
DOIS CAMPOS:
Não apresenta uma ligação entre atos e objetivos individuais e formações sociais;
Não apresenta com clareza como vincular forças produtoras.
A VISÃO PSICOLÓGICA:
Correntes que analisam o individuo de forma singular, de forma isolado buscando elucidar suas funções psicológicas independente de suas relações sociais.
Outras correntes analisam pela psicologia social ou de massa sem conferir
Nenhum lugar apropriado às funções psicológicas do indivíduo singular.
Alguns membros dessa corrente atribuem a uma massa de pessoas uma alma própria que transcende as almas individuais.
Sociedade como uma acumulação aditiva de muitos indivíduos.
Para o autor falta um modelo conceitual e uma visão global onde possamos compreender de que forma um grande numero de indivíduos.
A Teoria da Gestalt descortinou mais a fundo esses fenômenos. Nos ensinou, primeiramente, que o todo é diferente da soma de suas partes.
Para se compreender as partes, é preciso, antes, compreender o todo. A abordagem gestáltica considera o indivíduo uma função do campo formado pelo dual organismo/ meio, sendo seu comportamento um reflexo de sua ligação dentro desse campo. ... Toda função do organismo é necessariamente um processo de interação entre este organismo e o meio.
Partindo dos modelos que poderiam facilitar o raciocínio sobre a relação entre indivíduo e sociedade, nossa autoimagem pode impor resistência. Se as pedras talhadas e encaixadas para compor uma casa não passam de um meio; a casa é o fim.
"Seremos também nós, como seres humanos individuais, não mais que um meio que vive e ama luta e morre, em prol do todo social?"
Divisão do trabalho, a organização do Estado, é apenas um “meio”, consistindo o “fim” no bem-estar dos indivíduos.
- O bem-estar dos indivíduos é menos “importante” que a manutenção da unidade social de que o indivíduo faz parte, constituindo está o “fim” propriamente dito da vida individual.
só pode haver uma vida comunitária mais livre de perturbações e tensões se todos os indivíduos dentro dela gozarem de satisfação suficiente; e só pode haver uma existência individual mais satisfatória se a estrutura social pertinente for mais livre de tensão, perturbação e conflito.
“A sociedade é o objetivo final e o indivíduo é apenas um meio”, “o indivíduo é o objetivo final e a união dos indivíduos numa sociedade é apenas um meio para seu bem-estar”
Segundo o autor, “o indivíduo é o objetivo final e a união dos indivíduos numa
sociedade é apenas um meio para seu bem-estar”.
Segundo Norbert Elias, o ser humano é criado pelos que existiram antes dele. A pessoa cresce, e vive como parte de uma associação de pessoas, de um meio social, indempendente de qual seja esta meio.
Porém, isso não significa que o individuo seja menos importante que a sociedade, mesmo partindo da premissa de que o indivíduo é apenas um meio para o fim. A relação entre a parte o todo é uma forma de relacionamento, nada mais.
A ideia de não existência da sociedade, mas de apenas uma porção de indivíduos é comparada a dizer que não existem casas, apenas um monte de pedras.
Partindo dos modelos que poderiam facilitar o raciocínio sobre a relação entre indivíduo e sociedade, nossa autoimagem pode impor resistência. Se as pedras talhadas e encaixadas para compor uma casa não passam de um meio; a casa é o fim.
"Seremos também nós, como seres humanos individuais, não mais que um meio que vive e ama luta e morre, em prol do todo social?"
Divisão do trabalho, a organização do Estado, é apenas um “meio”, consistindo o “fim” no bem-estar dos indivíduos.
- O bem-estar dos indivíduos é menos “importante” que a manutenção da unidade social de que o indivíduo faz parte, constituindo está o “fim” propriamente dito da vida individual.
Só pode haver uma vida comunitária mais livre de perturbações e tensões se todos os indivíduos dentro dela gozarem de satisfação suficiente; e só pode haver uma existência individual mais satisfatória se a estrutura social pertinente for mais livre de tensão, perturbação e conflito.
“A sociedade é o objetivo final e o indivíduo é apenas um meio”, “o indivíduo é o objetivo final e a união dos indivíduos numa sociedade é apenas um meio para seu bem-estar”
Segundo o autor, “o indivíduo é o objetivo final e a união dos indivíduos numa
sociedade é apenas um meio para seu bem-estar”.
A ideia de não existência da sociedade, mas de apenas uma porção de indivíduos é comparada a dizer que não existem casas, apenas um monte de pedras.
Segundo o autor, a sociedade é cheia de contradições e tensões com alternância entre declínio e ascensão, guerra e paz. Certamente não há total harmonia, mas a, pelo menos, o "todo", que nos avoca uma ideia de coisa completa.
A sociedade não é algo tangível, não pode ser vista e tocadas porém se firma presente no espaço tempo.
Existe uma linha sequencial, pais seguidos de filhos, e mães por filhas.
Não existe uma liga que une as pessoas na sociedade, nas ruas, a maioria das pessoas não se conhecem, cada qual segue seu rumo, mas ainda assim fazem parte do mesmo "todo". Existe uma ordem oculta, não perceptível pelos sentidos.
Há laços que ligam as pessoas, por mais que seus caminhos sejam diferentes e próprios, há laços aparentemente desvinculados na rua, sejam profissionais, como o motorista do seu ônibus, de propriedade, como os cotistas de um consórcio. Esses laços podem ser ainda de instintos, ou afetos.
Cada qual, membro da sociedade tem seu caminho, seus afazeres e sua vida. Não lhe é possível, de forma simples, passar para outra função na sociedade, mesmo que assim o deseje. O mecânico não pode, da noite pro dia, se tornar médico. Existe um processo na mudança.
para cada qual, há um meio, um traje, um caminho e formas especificas de comportamento, que podem diferir entre os moradores de uma grande cidade Europeia, para uma pequena Vila Chinesa, ou um Feudo medieval.
Esses laços e vínculos ocultos, que formam, a sociedade não se deram simples soma de vontade ou decisão comum de indivíduos, conduzidas por meio de um contrato social ou referendado por votações. É uma rede funcional que emergiu gradativamente ao longo do tempo, emergindo das cadeias e funções relativamente simples, iniciando-se na Idade Média
Para o autor, a única maneira de compreender as unidades compostas, seria dissecando-as, analisando as unidades menores, que compões as maiores através de suas inter-relações. Apor sua vez, as relações entre essas unidades. Segundo o autor, é frequente que grupos de pessoas cujas ideias , juntamente com sua experiências sociais, se concentram na autonomia das leis das relações humanas. Esses grupos atribuem a regularidade uma substância que transcende os indivíduos concebendo as sociedade como algo supra-individual, criando uma "mentalidade coletiva", por analogia a forças e substancias sobrenaturais.
Em oposição, há os grupos cujas ideias se concentram no indivíduos humanos acreditando naquilo que chamamos de "estruturas e leis sociais", nada além disso.
Aquilo a que chamamos sua estrutura não é a estrutura das pedras isoladas, mas a das relações entre as diferentes pedras com que ela é construída; é o complexo das funções que as pedras têm em relação umas às outras na unidade da casa.
De forma consciente, ou inconsciente, a maioria das pessoas acredita que "no princípio", um único ser surgiu, vindo a se juntar a outros posteriormente. Essa seria a descrição da bíblia, porém é como se as pessoas adultas ignorassem o fato de que elas mesmo vieram ao mundo ainda crianças. Tanto mitos científicos como religiosos são compelidos a imaginar que no começo houve apenas um ser humano, um adulto.
É impossível ignorar a cedia ininterrupta sequencia de pais, e filhos. A inter-relação entre seres humanos é um condição fundamental da sociedade.
A condição natural do ser humano ao nascer, é ser diferente, único, mas apenas na sociedade que a criança, que conta com funções mentais maleáveis, se transforma em um ser mais complexo. O recém nascido é um esboço preliminar de uma pessoa. De forma isolada, seu desenvolvimento se dá na forma de um animal humano semisselvagem.
Todas as características do desenvolvimento do ser humano são influenciadas pela sociedade em que vive, com as situações vividas ao curso de sua vida.
As relações sociais que envolvem o desenvolvimento de uma criança, são determinadas em su8a estrutura básica, pela estrutura da sociedade em que a criança nasce, e cresce, e que já existia antes de seu nascimento.
As diferenças na sociedade ao longo do tempo, influenciam do desenvolvimento da criança ao longo de seu crescimento. Uma criança que nasce no século XII desenvolvia uma estrutura dos instintos e da consciência diferente da de uma criança do século XX.
A criança além de maleável e adaptável, precisa ser adaptada pelo outro, precisa da sociedade para se tronar adulto. As imagens instintivas que evoluem lentamente na criança recém-nascida nunca constituem uma cópia do que lhe é feito pelos outros.
BREVE ANÁLISE PESSOAL:
O debate acerca da sociedades, do indivíduo e do papel deste dentro da sociedade, são temas sempre atuais que se moldam e modificam com o passar do tempo.
Ao observarmos as modificações que sofrem as sociedades, como a que estamos passando hoje com as modificações nas formas de comunicação, assistimos e participamos de mais um capítulo na história das humanidade no campo das relações sociais.
As novas tecnologias de comunicação que vivemos hoje, já estão alterando a forma com as crianças de hoje se relacionam, e certamente deverá causar modificações na sociedade de amanha, porém não podemos esquecer que, o amanha já é hoje.
O temos abordado nessa fase do componente se dialoga com outros textos analisados como o da CIBERCIDADE, expondo as novas formas de se relacionar e de se inserir na sociedade. Certamente algum dia teremos outro autor como Eric Hobsbawn analisando os dias de hoje sob a perspectiva de um historiador.
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