Nessa postagem faço uma breve análise sobre a introdução e o primeiro capítulo do livro de Zygmunt Bauman, COMUNIDADE, a busca por segurança no mundo digital
Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo Polonês, utilizou o conceito de "modernidade liquida", como meio de explicar como se processam as relações sociais atualmente. Para Bauman, a modernidade "sólida" que fora forjada entre os séculos XIV e XV, com seu apogeu nos séculos XIX e XX, teve como característica a ideia de que o ser humano seria capaz de criar um novo futuro para a sociedade em paralelo a uma vida enraizada em instituições fortes e presentes, como o Estado e a família.
Segundo Bauman, a partir das últimas décadas, sobretudo após o colapso do bloco soviético marcado pela queda do Muro de Berlim, em 1989, essa modernidade “sólida” entrou em declínio e seria gradualmente substituída por uma modernidade.
Para ele, a humanidade vive hoje uma unidade, onde as relações estão conectadas.
Os seres humanos se multiplicaram e suas relações e conexões se espalharam ao redor do mundo de forma onde somos todos dependentes um do outro.
"A comunidade precede de você. Você nasce em uma comunidade. E se você quiser sair dela, ir e entrar em outra, bem, você pode fazer isso porque vivemos em uma sociedade democrática.
Mas, não é fácil..."
Zygmunt Bauman
Mudar de comunidade não é algo fácil. É possível, mas poderá gerar dúvidas quanto a sua lealdade e caráter. O sociólogo expõe as dificuldades sofridas por povos que buscam mudar de sociedade apresentando expos como os judeus buscando fazer parte da comunidade da Alemanha, e seu sofrimento com o Nazismo.
Bauman, em uma entrevista concedida em sua casa para em 2011, aborda a questão das formas de relação atuais, abordando as diferentes formas como elas se iniciam, e se desintegram. As atuais redes sociais onde, apesar criar muitos e novos laços humanos, também os mina, dando o exemplo de pessoas solitárias, em meio a muitas pessoas solitárias, em uma comunidade de indivíduos juntos, mas isolados.
Para ele, a Democracia que vivemos hoje, não aquela descrevida por Aristóteles. Pois ela se dá diferentes formas, ao longo da história, as instituições democráticas de hoje foram criadas e moldadas para a realidade de hoje, na história da humanidade, e as necessidade da humanidade de hoje, serão diferentes do que foram um dia.
Em sua entrevista, Bauman exemplifica os "talk-shows", como forma legítima de Democracia, onde as pessoas participa, falam, votam, enviam perguntas e opiniões, comparando a Ágora, termo grego que significa "reunião".
Normalmente a Ágora era um espaço livre, onde os cidadãos costumavam ir, configuradas pela presença de mercados e feiras livres teria sido uma parte essencial da constituição dos primeiros estados gregos.
Em seu livro, COMUNIDADE, a busca por segurança no mundo atual, cuja análise durante o componente cursado, foi de sua introdução e de seu capítulo A agonia de Tântalo, o sociólogo aborda o aspecto positivo da vida em comunidade, com a segurança que essa nos trás, porém em detrimento da liberdade do direito de serem as pessoas, quem elas realmente são. Na introdução do livro, o autor acredita que o mundo em que vivemos é cada vez mais perigoso, mas que a comunidade é capaz de nos oferecer certa segurança, mesmo com a perda da liberdade individual.
O autor defende que a comunidade é um lugar seguro, confortável, como "um teto sob o qual nos abrigamos da chuva pesada, como uma lareira diante da qual esquentamos as mãos num dia gelado". Na comunidade podemos contar com a ajuda do próximo.
Porém há um preço a se pagar pelo privilégio de viver em comunidade, esse preço é pago pela perda da autonomia e do direito a auto-afirmação.
Para o autor, não ter comunidade significa não ter proteção. para ele, a segurança e a liberdade são dois valores igualmente desejados e preciosos que podem ser bem ou mal equilibrados, mas nunca totalmente ajustados e sem que haja atritos.
"Não seremos humanos sem segurança ou sem liberdade; mas não
podemos ter as duas ao mesmo tempo e ambas na quantidade que
quisermos."
Em seu segundo capítulo, Bauman tráz como exemplo o conto da mitologia grega de Tântalo, filho de Zeus e Plutó. Tânatalo gozava de uma vida boa e dispunha de boas relações com os Deuses.
Porém Tântalo cometeu um crime que imperdoável. Alguns narradores da história dizem que ele abusou da confiança divina e revelou aos homens mistérios e segredos que deveriam permanecer ocultos aos humanos. Outros autores dizem que pagou pela sua arrogância quando acreditou ser mais sábio do que os deuses, tendo decidido testar os divinos poderes de observação. Outros narradores ainda acusam Tântalo de roubo de néctar e ambrósia
que nunca deveriam ser provados pelos mortais.
Independente que qual dessas narrativas é a correta, todas tem a mesma natureza, Tântalo foi culpado por adquirir e compartilhar com os humanos um conhecimento que nem ele, tampouco os mortais deveriam ter acesso.
Como punição divina, Tântalo foi condenado a ser mergulhado até o pescoço num regato, porém ao baixar a cabeça para saciar a sede, a agua desaparecia. Sob sua cabeça haveria um belo ramo de frutas, mas ao estender a mão para pegar e matar a fome, este desaparecia.
A mensagem do que nos trás o mito é a de que você somente poderá continuar feliz, enquanto mantiver sua inocência. Para desfrutar aa alegria abençoada e despreocupada, deve ignorar a natureza das coisas, não tentar mexer com todas e muito menos toma-las em suas mãos.
O autor apresenta outros exemplos de história e mitos semelhantes, os gregos não foram os únicos a incluí-la entre as histórias que contavam.
Na vida em comunidade há um consenso, que nada mais pé que um acordo entre pessoas com opiniões diferentes, um produto de negociações e compromissos difíceis, de muita disputa e contrariedade. O tipo de entendimento em que uma comunidade está baseada
precede todos os acordos e desacordos. Tal entendimento não é uma linha de chegada, mas o ponto de partida de toda união.
Para o autor, a promoção da segurança requer a perda da liberdade, e esta apenas poderá ser ampliada a custa da segurança. Mas, reitera o autor, segurança sem liberdade, é como a escravidão, e liberdade sem segurança equivale a estar perdido e abandonado.
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